O que é curtailment de energia + consequências do corte
As empresas que investem em fontes renováveis enfrentam um desafio importante no processo de geração: o curtailment de energia. No contexto energético, o termo significa corte.
O tema é atual, principalmente pelo aumento dos investimentos em energias renováveis, como solar e eólica, que geram mais do que a capacidade do sistema de transmissão suporta.
A infraestrutura do Sistema Interligado Nacional (SIN) funciona de forma integrada, o que permite o intercâmbio da energia elétrica gerada em diversas regiões brasileiras.
Porém, o SIN ainda não absorve de maneira eficiente a produção crescente dos parques eólicos e das usinas solares, especialmente em regiões de alta geração, como o Nordeste.
A redução ou corte na geração de energia é um problema crescente no mercado porque causa desperdício de energia renovável e perdas financeiras milionárias para as empresas.
Segundo dados da Absolar e da ABEEólica para a revista Valor, os cortes de energia geraram perdas na casa de R$ 1 bilhão — R$ 237 milhões no setor de energia solar e R$ 700 milhões no segmento de energia eólica.
Continue no artigo e entenda o conceito de curtailment de energia, as principais causas, as consequências do corte para os geradores e as medidas para evitar interrupções na geração.
Boa leitura!
O que é curtailment de energia?
O curtailment de energia é o corte da geração em usinas solares e eólicas quando a produção ultrapassa a demanda ou a capacidade de transmissão do sistema em momentos específicos — por exemplo, quando há muito sol ou vento, ou no fim do dia, quando a disponibilidade dos recursos diminui.
Essa ação é controlada pelo Operador Nacional do Sistema (ONS), que sinaliza às geradoras a necessidade do corte.
A preocupação das empresas em relação ao curtailment é o grande desperdício de energia, afinal, o desligamento acontece justamente quando há mais radiação solar e ventos fortes para gerar eletricidade.
Porém, a impossibilidade de o sistema receber o excedente produzido e armazená-lo inviabiliza a continuidade da operação. Dessa forma, as geradoras devem ficar atentas aos riscos e potenciais perdas com o curtailment nos próximos anos.
Segundo a consultoria PSR, a previsão é de que as interrupções continuem frequentes enquanto a oferta de energia seguir em um ritmo maior do que a demanda no país.
Quais são as principais causas da interrupção?
As principais causas do curtailment de energia são: geração maior do que a demanda, infraestrutura insuficiente para integrar as fontes renováveis ao sistema elétrico, limitações para o armazenamento em larga escala.
Entenda como cada fator influencia a ocorrência de interrupções nas usinas produtoras de energia.
1. Excesso de geração e baixa demanda
Ainda segundo dados da consultoria PSR, em 2024 houve uma superoferta de energia de 25%. O mercado ofertou 100 GW médios para cobrir a demanda de 80 GW.
Uma das causas desse desequilíbrio é o ritmo de expansão das usinas renováveis mais acelerado do que a adaptação do sistema de transmissão para comportar o fluxo de energia.
Além do fator técnico, a alta capacidade de geração é um problema, já que, sem alternativas para escoar a energia, o ONS desliga as usinas no momento de maior produtividade. Essa medida pode comprometer o cumprimento dos contratos firmados pelas geradoras com os clientes.
2. Infraestrutura insuficiente
O despacho das fontes geradoras só acontece na quantidade necessária para atender à demanda, o que gera curtailment de energia quando a produção ultrapassa o limite.
Mesmo com iniciativas governamentais, como leilões para contratar empresas com o objetivo de expandir a rede de transmissão e distribuição elétrica do país, o tempo para instalação e o alto custo reduzem a capacidade do sistema.
Como a interrupção está prevista em lei devido a esses gargalos e restrições, os geradores têm prejuízos financeiros, o que pode inviabilizar os projetos.
3. Limitações no armazenamento de energia
Outro gargalo que causa o curtailment é a limitação no armazenamento de energia elétrica. Hoje, o corte acontece porque não há locais para estocar o excedente da produção.
As principais alternativas para driblar as limitações e evitar o desperdício de energia renovável incluem:
- investimento em baterias de grande escala, ativadas nas faixas de baixa demanda energética;
- estímulo a novos mercados de energia para absorver a geração;
- ampliação da mobilidade elétrica, ou seja, substituir fontes “sujas” por fontes renováveis;
- atração de novos setores, como o de data centers, que têm alta demanda energética.
Porém, o sucesso dessas estratégias depende da modernização das redes de transmissão para levar energia até os pontos de consumo.
Quais as consequências do curtailment para os geradores de energia?
As consequências do curtailment para os geradores de energia são bastante negativas, afinal, só o prejuízo financeiro bilionário mostra o quanto os geradores deixam de faturar com as interrupções.
Consequentemente, a redução da rentabilidade das fazendas solares e eólicas pode impactar os investimentos em energia limpa, fontes geradoras mais baratas e renováveis.
A micro e minigeração distribuída e as grandes usinas solares somam 53 GW de capacidade instalada no Brasil, segundo a Absolar, mas o curtailment é um desafio para os investidores.
A dificuldade de integração das fontes renováveis ao sistema tradicional é outra consequência do corte de energia. Muitas distribuidoras recusam a conexão de fontes renováveis devido à inversão de fluxo de potência, principalmente na geração distribuída.
Por fim, o desperdício de energia limpa é um fator crítico, afinal, o consumidor final perde a chance de pagar menos pela energia, o que limita a expansão do setor no mercado energético nacional.
Como evitar o curtailment de energia?
As estratégias para evitar o curtailment de energia incluem maiores investimentos governamentais na infraestrutura de transmissão, regulamentação do armazenamento de energia, otimização da gestão de demanda e planejamento de geração conforme a previsibilidade de consumo.
Entenda como essas soluções funcionam e os efeitos positivos, especialmente para o mercado de energias renováveis.
1. Investimentos em modernização da infraestrutura de transmissão
Uma infraestrutura de transmissão mais ampla e moderna possibilita a chegada de energia limpa aos consumidores finais. Um plano de escoamento mais eficiente ajuda a distribuir o fluxo elétrico e a atender à demanda do país.
2. Armazenamento de energia
A principal forma de evitar o curtailment hoje é o investimento em tecnologias de armazenamento de energia elétrica, como as baterias de níquel-hidreto metálico (NiMH) e de íons de lítio. A Aneel pretende solucionar essa questão até maio de 2025.
O investimento em sistemas híbridos de energia, que unem duas ou mais fontes geradoras, garante um fornecimento mais estável e eficiente, além de equilibrar a oferta e a demanda.
3. Gestão da demanda e flexibilidade no consumo
Outra estratégia para evitar o curtailment é a aplicação de tarifas dinâmicas, cujos preços variam conforme a demanda, o nível de oferta e a sazonalidade, o que incentiva o consumo em horários de maior geração.
A integração do sistema de resposta à demanda é outro mecanismo que permite reduzir ou mudar o consumo para obter compensação financeira. Assim, é possível equilibrar a oferta e a procura de energia e, dessa forma, criar um sistema elétrico mais eficiente, seguro e flexível.
Melhore o planejamento de geração de Energia
A existência do curtailment de energia como forma de conter a geração traz desafios importantes para as empresas geradoras. Por esse motivo, é essencial incluir no planejamento de usinas renováveis os riscos de cortes e previsões de perdas financeiras e redução de capacidade.
Além das soluções discutidas, conhecer novas tecnologias de geração ajuda a encontrar alternativas para mitigar o problema.
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