Agricultura sustentável: importância, exemplos no Brasil e no mundo
A produção de alimentos em larga escala vem causando impactos ambientais e sociais, o que, ao longo do tempo, levantou uma bandeira vermelha para a necessidade de melhorar as técnicas produtivas. Foi assim que, na década de 1970, o conceito de agricultura sustentável começou a ser discutido.
Os principais impactos causados pela agricultura tradicional são: desmatamento, comprometimento da qualidade da água, do solo e do ar, poluição, queimadas, extinção de espécies, utilização de agrotóxicos, emissão de gases de efeito estufa, entre outros.
No Brasil, que tem o agronegócio como um dos carro-chefe da economia, a preocupação com os meios e tecnologias empregados nas grandes áreas de cultivo gera bastante discussão a respeito das possíveis melhorias para reduzir os impactos negativos.
No último relatório do SEEG (Sistema de Estimativas de Emissões de Gases do Efeito Estufa) do Observatório do Clima, divulgado em 2023, a agropecuária foi o segundo setor mais poluentes, responsável por 27% das emissões nacionais, atrás apenas das mudanças do uso de terra que emitiu 48% dos gases do efeito estufa.
Por isso, o setor está no centro das conversas sobre ESG (siga em inglês para iniciativas ambientais, sociais e de governança corporativa), cujo objetivo é incentivar as boas práticas para que os países alcancem as metas ambientais.
Neste artigo, vamos abordar os principais pontos para entender o conceito de agricultura sustentável, sua importância, objetivos, como ele é aplicado, o cenário no Brasil e no mundo e o papel da energia sustentável na agricultura.
Boa leitura!
O que é agricultura sustentável?
A agricultura sustentável é definida como uma prática que objetiva fazer o manuseio correto e a preservação dos recursos naturais com a aplicação de tecnologias e práticas que proporcionem a satisfação das necessidades alimentares da população no presente, garantindo as mesmas possibilidades às gerações futuras.
O desenvolvimento da atividade econômica baseado nos princípios de sustentabilidade preserva as propriedades do solo, a qualidade da água e os recursos para existência das espécies animais e vegetais.
Além disso, a agricultura sustentável não deteriora o ambiente, utiliza técnicas de produção mais favoráveis à preservação, é economicamente viável e socialmente aprovável.
O conceito foi estabelecido pela FAO (Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação) e é uma das definições aceitas internacionalmente para a prática, dada a complexidade do tópico.
A proposta de repensar as práticas agrícolas surgiu da necessidade de criar um padrão que utilize mais racionalmente os recursos disponíveis.
Afinal, em longo prazo e com a intensificação dos impactos negativos no solo, na água e no ar, a capacidade produtiva mundial fica comprometida.
Atualmente, os países estão conscientes sobre os efeitos que a utilização dos recursos naturais sem freio pode trazer para o desenvolvimento econômico e social no futuro.
Porém, as práticas vigentes continuam longe do ideal para produzir impactos significativos, tornando o assunto uma pauta ainda mais relevante, que precisa ser debatida.
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Por que a agricultura sustentável é importante?
A agricultura sustentável é uma iniciativa importante porque contribui ativamente para a preservação dos recursos do solo, garantindo que ele permaneça fértil e, portanto, cultivável, proporcionando a segurança alimentar da população.
O resultado só é possível se os todos os países produtores adotarem boas práticas de sustentabilidade no cultivo, especialmente nas produções em larga escala, cujo impacto é potencializado pelo volume da produção.
As mudanças climáticas vivenciadas hoje com períodos de estiagem prolongados e chuvas em volumes inesperados são fatores que interferem no ciclo das produções agrícolas, causando perdas enormes aos produtores, tanto os grandes quanto os pequenos.
Uma estimativa divulgada pela Bayer é a de que as alterações do clima podem causar 17% de perdas nas lavouras e ainda reduzir em 20% a área disponível para plantio até 2050.
Considerando que a tendência é que a demanda alimentar do planeta cresça em 50% se a população mundial atingir 2,2 bilhões de pessoas, a consolidação de práticas sustentáveis é essencial desde agora para evitar uma escassez de alimentos ainda maior no futuro.
Por isso, os agricultores são considerados aliados essenciais para o alcance dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) propostos por órgãos internacionais, como a ONU (Organização das Nações Unidas).
O programa chamado de Agenda 2030, apresentado e aceito por 193 estados-membros da ONU em 2015, propõe 17 objetivos e 169 metas globais interligadas para cumprimento até 2030.
O Brasil faz parte desse time e já existem ações voltadas para sustentabilidade no agronegócio e também na pecuária nacional. Falaremos sobre elas no decorrer do artigo.
Quais os três principais objetivos da agricultura sustentável?
Os três principais objetivos da agricultura sustentável, segundo o NRC (National Research Council), órgão norte-americano, no relatório Agricultura Alternativa são:
Conservação do meio ambiente
O primeiro objetivo de aplicar a sustentabilidade na agricultura é conservar o meio ambiente no qual a produção se desenvolve (solo, água e ar) para ampliar a produtividade dos sistemas agrícolas, sem gerar perdas na preservação dos recursos naturais da área.
Dessa forma, os produtores podem atender continuamente a demanda produtiva de abastecimento dos seus produtos.
Os cuidados com o ciclo de produção garantem não só que a população seja atendida, mas também favorece o desenvolvimento e crescimento econômico nos países.
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Produção com alta qualidade nutricional
Os agrotóxicos, além de comprometerem a qualidade dos alimentos, contaminam diretamente o solo e, consequentemente, o lençol freático e os rios, uma vez que os resíduos penetram na terra e são levados pelas chuvas.
Com a agricultura sustentável é possível aumentar o nível da qualidade nutricional dos produtos, utilizando técnicas e escolhendo meios para preservar as lavouras de pragas, sem a utilização de produtos químicos com propriedades danosas à saúde.
A produção de alimentos sadios, integrais e nutritivos é fundamental para o bem-estar da população e para a dignidade alimentar, garantindo que todos tenham acesso a itens de qualidade.
Igualdade e rentabilidade econômica
O terceiro objetivo da agricultura sustentável é que não só os grandes, mas também os médios e pequenos produtores consigam criar negócios prósperos, reduzindo as disparidades sociais e econômicas nos países.
A possibilidade de criar uma fonte de renda local sólida, investindo em um modelo de produção limpo, é um incentivo à geração de renda em comunidades fora dos eixos que produzem em larga escala.
Além disso, é um fomento à inovação, aplicando os subsídios governamentais para pequenos produtos para criar sistemas produtivos que potencializam a produtividade do solo, preservando suas características e todo o meio ambiente ao redor.
Como é feita a agricultura sustentável?
A agricultura sustentável é praticada por meio de mudanças nos processos produtivos. Para isso, os produtores analisam o próprio contexto para identificar as mudanças possíveis e planejar como implementá-las.
Reunimos abaixo quatro boas práticas de sustentabilidade utilizadas no mercado agrícola. Veja quais são e como funcionam:
1. Agricultura orgânica
A agricultura orgânica é a diretriz mais conhecida e propagada na agricultura, contrapondo-se diretamente aos sistemas de produção tradicionais. Existem várias práticas sob o guarda-chuva orgânico com suas características específicas.
O pilar principal é a preservação da fertilidade do solo e da saúde dos vegetais por meio de técnicas de cultivo agrícola, como:
- adubação orgânica e compostagem;
- diversificação e rotação de culturas;
- manejo ecológico de pragas e doenças;
- preservação ambiental.
Além de cuidar do meio em que a produção acontece, as técnicas de cultivo orgânico contribuem para a integridade das comunidades rurais, preservando a cultura e a ecologia locais.
As escolhas em cada fase do processo de produção (processamento, armazenamento, distribuição e comercialização) priorizam insumos e materiais sustentáveis para reduzir os impactos da atividade.
Uma pesquisa científica realizada por 22 anos pelo pesquisador David Pimentel, da Universidade Cornell (EUA) comparou a produção tradicional e orgânica de milho e soja e mostrou que o sistema orgânico utiliza 30% menos energia fóssil, preserva mais água no solo, causa menos erosão, mantém a qualidade do solo e conserva mais recursos biológicos.
No Brasil, o método é utilizado e as principais culturas orgânicas são: soja, café, frutas, cana-de-açúcar, cacau, palmito e hortaliças.
2. Agricultura biodinâmica
A agricultura biodinâmica é outro sistema de agricultura sustentável baseado nas diretrizes da Antroposofia, uma corrente filosófica e prática de desenvolvimento do ser humano criada no começo do século XX por Rudolf Steiner.
Essa prática aplica conhecimentos astronômicos na produção agrícola, considerando os efeitos das forças sutis/espirituais nas plantas, animais e no próprio homem.
As principais diferenças para o sistema orgânico são a utilização da astronomia e de preparados biodinâmicos no cultivo.
Em comum, o uso sustentável dos recursos naturais e a eliminação de agrotóxicos, transgênicos e outras substâncias prejudiciais ao solo, animais e à saúde humana.
3. Agricultura natural
Os princípios da agricultura natural foram criados no Japão, por Mokiti Okada, na década de 1930. O objetivo da técnica é produzir, seguindo um ciclo que imita o da natureza. Entre as práticas utilizadas estão:
- pouca movimentação do solo;
- utilização de roçadas, cobertura verde, semeaduras consorciadas de cereais;
- eliminação do esterco animal;
- aplicação de compostos apenas vegetais para o equilíbrio do solo.
Diante das práticas agrícolas inadequadas que faziam (e ainda fazem) uso indiscriminado de agrotóxicos. Okada propôs uma técnica que conservava a qualidade do solo e, consequentemente, dos alimentos, garantindo o equilíbrio biológico e a qualidade de vida.
4. Permacultura
A quarta técnica para fazer agricultura sustentável é a permacultura, ou agricultura permanente, criada pelos australianos Bill Mollison e David Holmgren, na década de 1970.
O propósito é integrar as culturas agrícolas ao ecossistema natural (animais e florestas) para que em vez de abrir espaço para a plantação, ela seja adaptada ao espaço existente.
Dessa forma, na permacultura é comum a produção de animais e plantas acontecer no mesmo tempo e no mesmo local, preservando a paisagem e recursos para que ambas as culturas obtenham bons resultados.
Um exemplo brasileiro da técnica é a cabruca, realizada na Bahia. A mata é raleada para o cultivo de cacau entre outras árvores do campo, reproduzindo o mais próximo possível as características do ambiente original do fruto.
Exemplos de agricultura sustentável no Brasil e no mundo
Já que estamos falando do Brasil, não faltam exemplos de agricultura sustentável no país, desde as práticas orgânicas até a permacultura, mais alternativa, como mencionamos acima.
Desde 2003, o Plano Safra, uma iniciativa federal, fomenta práticas de sustentabilidade na agricultura nacional, apoiando financeiramente os produtores rurais de todos os portes para investirem em soluções mais limpas no cultivo.
No ciclo 2023/2024 houve um aumento de 30% no montante disponível para investimento em relação ao ciclo anterior. Essa é uma das iniciativas na parte de incentivo para que os produtores tenham meios para implementar soluções sustentáveis.
Outro exemplo é a adoção do manejo florestal sustentável, principalmente na região amazônica, alvo principal do desmatamento. A ideia é que tanto as atividades agrícola e pecuária como a extração de madeira aconteçam no esquema de rodízio, seguindo um plano de conservação.
Um fazendo da região de Alta Floresta, no Mato Grosso, preserva 11 mil hectares de mata nativa da sua propriedade com essa técnica, dividindo a área com o plantio de soja, milho e sorgo.
A sustentabilidade no mundo
Entre as práticas internacionais, a Suíça se destaca entre os países mais sustentáveis. Na agricultura, o país garante o abastecimento de água para utilização das lavouras do derretimento das geleiras das montanhas.
Nos Estados Unidos, um fundo nacional de mais de US$ 13 bilhões apoia projetos para produção de novos tipos de novos fertilizantes, redução dos combustíveis fósseis e aplicação da inteligência artificial nas lavouras.
Já na Bélgica, um projeto da Universidade de Wageningen atua para reduzir o impacto do maquinário pesado no solo.
Com o auxílio das tecnologias sustentáveis na agricultura, especificamente robôs, pequenos e mais leves, será criado um sistema de furos verticais para diminuir a densidade e auxiliar no escoamento do excesso de água do solo cultivado.
Leia mais >>> Tecnologia sustentável: 7 exemplos, uso no Brasil + dicas.
Consumo de energia sustentável na agricultura
O abastecimento energético das lavouras também é um assunto tão em alta quanto a sustentabilidade das práticas de cultivo direto.
Um dos incentivos atuais é o consumo de energia sustentável na agricultura. A energia solar é uma das fontes limpas mais citadas pela possibilidade de instalação de sistemas fotovoltaicos nas lavouras.
Existem iniciativas que integram a plantação com os painéis de geração solar, otimizando o aproveitamento da área e garantindo o abastecimento. Um relatório da Allied Market Research projeta que o mercado agrovoltaico valerá US$ 9,3 bilhões até 2031.
No Brasil, o uso de energia renovável também é acessível aos negócios por meio do Mercado Livre de Energia, que é uma opção ao investimento em geração própria.
Os produtores rurais podem escolher o tipo de energia que desejam comprar e de quais fornecedores desejam adquirir, fechando contratos com preços vantajosos para atender sua demanda.
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