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Confira uma análise detalhada da crise hídrica atual

Confira uma análise detalhada da crise hídrica atual

A crise hídrica atual nos traz preocupações e acende um alerta sobre um possível racionamento de energia.

Mas o que realmente está acontecendo? Existem medidas para solucionar ou amenizar essa crise? Confira a nossa análise sobre o cenário hídrico atual.

O gráfico abaixo traz o histórico do nível dos reservatórios do SE/CO, que representam cerca de 70% da capacidade de armazenamento de energia em forma de água do Sistema Interligado Nacional (SIN) para o mês de Junho, em relação a Capacidade Máxima (CapMax) de armazenamento.

Nota-se no gráfico que num passado não muito distante esse valor era sempre superior à 60% da CapMax e que desde 2014, quando também tivemos discussões sobre racionamento/racionalização, os reservatórios não voltaram a  patamares confortáveis como no passado.

Outro ponto importante é que considerando nossa projeção para o fechamento  de Junho, estaremos exatamente com o mesmo nível do ocorrido em 2001, ano do racionamento.

Resumindo as informações do gráfico acima, a situação atual é crítica, pois estamos entrando na estação seca, com pouquíssima água nos reservatórios.

Mas, é claro que muitas coisas mudaram desde 2001, e aprendemos com o impacto político e econômico do racionamento.

Em relação à 2001, podemos citar as mudanças abaixo:

  • Tivemos uma grande expansão da oferta de energia;
  • Hoje nossa matriz energética é muito mais diversificada;
  • O sistema é muito mais interligado, podendo usufruir dos aproveitamentos hidrelétricos das usinas do Norte do país, além de todo o potencial eólico do Nordeste;
  • A oferta termelétrica também aumentou consideravelmente, e ainda com combustíveis mais baratos como o GNL.

Toda  essa expansão fez com que a dependência das fontes hidroelétricas, que em 2001 era de cerca de 83%, caísse para os atuais 62% em termos de capacidade instalada, melhorando muito a segurança do sistema, mas não nos livrando da dependência das chuvas, afinal 62% ainda é muita coisa.

Também tivemos uma forte expansão em fontes renováveis, solar e eólica, que apesar de limpas, são intermitentes e também dependem da natureza.

De 2001 pra cá, e até em comparação a 2014, a matriz energética mudou consideravelmente e cresceu muito mais que a Demanda Máxima (consumo máximo instantâneo), como mostra o gráfico abaixo.

Mas, apesar desse aumento da oferta, a geração hidroelétrica não acompanhou esse crescimento, pois o volume de chuvas não tem sido muito bom, como podemos observar no gráfico abaixo, onde desde 2014 as chuvas raramente performaram acima da média histórica (MLT), mostrando a nítida tendência de escassez de chuvas que estamos passando, que fica mais clara quando traçamos uma média móvel de 12 meses.

Parte da culpa é das chuvas, mas a outra parte é do planejamento.

É unanimidade que os modelos que definem o despacho das usinas para o atendimento à demanda tem uma grande dificuldade de enxergar cenários adversos de chuvas, e rapidamente convergem para projeções dentro da média, o que mostra no gráfico acima.

Tanto é unanimidade, que estão em discussão alterações nos parâmetros e nas metodologias de projeção de chuvas desses modelos, o que daria um capítulo à  parte.

Continuando sobre o racionamento, agora é momento de pensarmos em medidas de prevenção para que não seja necessário chegarmos a esse  extremo.

Em nossa visão, o Governo na figura do Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico (CMSE), já vem tomando providências desde meados de outubro de 2020, quando decidiram despachar usinas térmicas fora da ordem de mérito, ou em termos mais práticos, fora dos modelos de despacho.

Tal iniciativa resulta em aumento do Encargo de Serviço de Sistema (ESS), que os consumidores livres já conhecem, mas em contrapartida evitou que a situação atual fosse ainda pior.

Entenda sobre os Encargos de Serviços de Sistema (ESS)

E recentemente o Operador Nacional do Sistema (ONS) anunciou a manutenção do despacho fora da ordem de mérito em sua disponibilidade total até o período úmido de 2022, para afastar a possibilidade de racionamento.

Porém, apesar da medida, o sistema necessita de outras providências, o que nos leva a acreditar que em breve serão lançadas campanhas de redução de consumo, ou o que chamamos de racionalização.

Entidades do setor vêm desenhando propostas de racionalização de energia, para tentar frear o risco de racionamento, lembrando que o racionamento consiste na redução compulsória do consumo e a racionalização em uma redução premiada, sendo algumas propostas:

  • A liberação de migração para o  mercado livre para consumidores que atualmente não se enquadram nesse mercado, desde que reduzam o seu consumo;
  • A retomada do programa de resposta à demanda, que consiste em remuneração do consumidor que reduzir o seu consumo em determinados momentos mediante o pagamento de um prêmio em R$/MWh;
  • Elevação do valor das bandeiras tarifárias, essa já em discussão no âmbito regulatório, dentre outras propostas.

Em resumo, diferentemente de 2014/2015 a economia está em pleno reaquecimento após o impacto inicial da pandemia causada pela Covid-19, fomentando o aumento do consumo.

A matriz energética é mais diversificada e atualmente a “folga” entre demanda e oferta é significativamente maior, mas as chuvas não estão ajudando, portanto para que não corramos o risco de um racionamento, algumas medidas de racionalização deverão ser tomadas para que não fiquemos a mercê das chuvas, que se não aparecem, farão de 2022 um novo marco do setor elétrico brasileiro.

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